Resumo: Artigo 36177
O Vídeo na Pesquisa em Tecnologia e Sociedade (46, 67, 68, 108)
Julio Cesar dos Santos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 213 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 53 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
A partir do seu surgimento, em meados do século XX, o vídeo tem sido utilizado na pesquisa científica em diversos campos. Na última década, pela diminuição de custo, o vídeo se tornou acessível a mais pesquisadores, como ferramenta e, também, como objeto de pesquisa, notadamente em Estudos Culturais, e se de início, o vídeo se desenvolveu em função da televisão, logo foram percebidas e incentivadas suas possibilidades criativas e analíticas. O vídeo na pesquisa em tecnologia e sociedade aponta convergências e contradições sobre o uso de tecnologias audiovisuais como instrumento e método científico. A tecnologia é vista aqui, a partir das acepções: (a) a teoria, a ciência, o estudo, a discussão da técnica e as habilidades do fazer; (b) a técnica, senso comum, equiparada à tecnologia; (c) o conjunto de todas as técnicas de que dispõe uma determinada sociedade, e que se define como patrimônio e instrumento de dominação, e; (d) a ideologia da técnica, constituída pelas formas como a tecnologia pode atuar na mediação de relações sociais, alterando inclusive seus fundamentos. Assim, a tecnologia audiovisual não se restringe ao artefato, compreende as implicações enquanto mediador social, onde é possível pensá-la como uma extensão do humano ao ponto de alterar-lhe o estado de consciência. O vídeo é um meio científico que não se limita a servir de corredor entre comunicantes, é intérprete e interpretante de um estado da arte, interferindo naquilo que media de tal forma que produz significados próprios, e é, portanto, extensão performativa de mensagens que podem ser interpretadas como método científico. A pesquisa científica é uma prática social que busca resultados, e o vídeo pode funcionar para os pesquisadores como um prolongamento e ampliação de seus sentidos perceptivos, analíticos e intelectuais. O registro de ações cronotópicas, sob a forma de sons e imagens em movimento, produz dados que não se restringem a palavras ou números, e possibilitam ao pesquisador o acesso a detalhes que antes lhe escapavam pelos métodos tradicionais de coleta. O vídeo ultrapassa a função óbvia de coleta, é um instrumento facilitador e método de abordagem que permite a multiplicação dos pontos de observação do pesquisador, ao permitir-lhe estar em mais de um lugar no mesmo instante. O uso do vídeo na pesquisa como instrumento de estudo não exclui percebê-lo como manifestação cultural. Em algumas pesquisas a videoarte ocupa a centralidade das investigações; noutras o objeto de pesquisa é o próprio desenvolvimento da tecnologia; e ainda, outros pesquisadores têm focado suas atenções sobre os modos como o vídeo se insere no discurso acadêmico e científico, lugar privilegiado pela palavra impressa. Compreender o vídeo como um mediador na situação prática da pesquisa exige pensar a pesquisa como uma situação de conflito, de tensão, que pressupõe relações de poder, e que este fato pode ser transformado construindo-se novos contextos e novas perspectivas, o que permite reafirmar a tecnologia audiovisual em todas as suas dimensões, interacionais e dependentes. O pesquisador é, ele próprio, mediador nas relações sociedade-indivíduo configuradas pela pesquisa em tecnologia e sociedade, pelo fato de que opera a máquina com o intuito de informar a sociedade sobre suas complexidades. Assim, o uso do vídeo na pesquisa em tecnologia e sociedade se constitui em objeto de estudo relevante por convergir questões práticas e teóricas, num contexto de atividades que se tornam fatos sociais, e que não podem ser ignorados. Tais problematizações levam a questionar até que ponto a utilização da tecnologia audiovisual gera implicações tanto na prática cotidiana quanto nos resultados da pesquisa? A pesquisa em tecnologia e sociedade, como uma prática social, constitui-se de processos interativos em diversos níveis, mediados e intermediados por artefatos tecnológicos, sejam eles máquinas ou programas, suportes ou meios, cujo objetivo fundamental é buscar compreender as implicações da tecnologia no cotidiano sociocultural em suas múltiplas interações entre tecnologia e sociedade. Ao produzir documentos, a partir de objetos, sujeitos e fatos culturais, o vídeo necessitará ser legitimado academicamente para que possa ser considerado um instrumento cientificamente válido. É uma opção de engajamento do pesquisador, e como tal inclui um processo decisório subjetivo, mas também conjuntural e, se percebido em sua dimensão histórico-cultural pode presumir implicações técnicas, motivacionais, e culturais.